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O que mudou no mercado imobiliário durante a pandemia

O que mudou no mercado imobiliário durante a pandemia

Pesquisa aponta que 40% dos brasileiros desejam adquirir imóveis novos; casas maiores com quintal e apartamentos com varandas são preferências

 

A quarentena imposta pela pandemia da Covid-19 trouxe mudanças em várias esferas da vida. Uma delas diz respeito à moradia, com impacto positivo no mercado imobiliário. Uma pesquisa da Brain Inteligência Estratégica, em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apresentada na segunda edição do Conexão Sienge, evento realizado pelo Sienge, aponta crescimento da intenção de compra de imóveis por parte dos consumidores para patamares pré-pandemia. “A retomada da intenção de compra reflete o bom momento do setor da construção, que certamente é um dos pilares para a retomada da atividade econômica no país”, diz Fabrício Schveitzer, diretor de operações do Sienge.

 

De acordo com a pesquisa qualitativa, realizada em agosto de 2020, 40% dos 689 entrevistados manifestaram vontade de adquirir apartamentos ou casas novas nos próximos dois anos, sendo que 32,5% deles já estão no mercado à caça de oportunidades. O avanço maior se deu entre o público com renda entre R$ 7.875,01 a R$ 13.492: 38% antes da pandemia, 40% em agosto.

 

Isolamento social
O desejo de compra vem junto com novas exigências por parte dos consumidores, já que 15% dos entrevistados apontaram que o isolamento social interferiu no estilo de imóvel desejado. Por exemplo, 19% responderam que não comprariam um imóvel sem varanda. Na faixa de renda acima de R$ 13.492,01, 40% das pessoas disseram que a fase de quarentena alterou os desejos imobiliários.

Schveitzer acredita que a mudança na forma como as pessoas interagem com seus imóveis por conta do isolamento social alterou também as demandas e expectativas com relação aos imóveis, fazendo com que busquem por espaços com mais áreas abertas e com mais conforto. “É um indicativo que precisa ser considerado na concepção de novos produtos imobiliários”, alerta.

A afirmação é endossada por outro estudo citado por Fábio Tadeu Araújo, economista e sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, sobre o relacionamento das pessoas com as próprias residências durante a quarentena. De acordo com os dados, os moradores de casas com quintal sofreram menos com o isolamento social, por isso as áreas livres ganharam importância. Já quem vive em apartamentos com varandas pequenas, ou até sem este espaço, ficou fatigado mais rapidamente do que quem podia usar a área aberta do imóvel.

 

Esta segunda pesquisa qualitativa, realizada em setembro de 2020, englobou 120 moradores das capitais São Paulo, Curitiba, Fortaleza, Recife, Goiânia, Brasília, Porto Alegre e João Pessoa a fim de entender o que mudou na relação das pessoas com imóveis durante o período de isolamento social. “O crescimento se deve ao fato de que as pessoas obrigadas a ficarem reclusas em casa começaram a ver a necessidade de mudança de imóvel. Mesmo quem não tinha essa ideia antes percebeu que era o momento para, pelo menos, iniciar a procura”, explica Araújo.

A arquiteta Patrícia Martinez conta que 83% da demanda de seu escritório no ano passado se referem a esse movimento da pandemia, com atuação bem pulverizada entre espaços corporativos e residenciais. “No primeiro mês do isolamento, em março, as pessoas ficaram paradas esperando o que aconteceria. Mas logo depois todos os projetos que estavam ‘na gaveta’, como segundo plano, vieram à tona”, conta ela, que atribui o fenômeno a um desejo por viver melhor dentro do próprio lar, questão que ficava em segundo plano, já que as pessoas não passavam tanto tempo em casa.

Mercado de alto padrão
Quem percebeu esse panorama na prática foi Alexandre Villas, diretor da Lopes, que administra a Imóvel A, considerada uma das principais boutiques privates do mercado imobiliário, que conta com um crescimento de mais 300% na procura de casas em bairros nobres de São Paulo, como Jardim Paulista, Jardim Europa e Jardim América, em toda a operação de luxo da empresa durante a pandemia.

Essa foi a razão pela qual a empresa firmou uma parceria com arquitetos renomados de São Paulo, para entregar ao cliente uma consultoria completa, já que são casas antigas, que, na maioria das vezes, precisam de um retrofit para atender as demandas atuais, como mudança de layout, automação, construção de piscina e afins. “Com esse estudo é possível o comprador já ter ideia do que precisa fazer, como vai ficar e o quanto vai custar”, diz.

Segundo Villas, o aumento também foi significativo na procura por casas de campo e de praia, principalmente nos condomínios de luxo no interior de São Paulo. “Com o home office, muitos profissionais não precisam mais estar a semana inteira no escritório e podem viver a maior parte dos dias no campo ou na praia”, conclui.

 

Em seu escritório, Patrícia Martinez também constatou a demanda de clientes com terrenos parados, que decidiram finalmente construir ou pessoas com casas de campo ou de praia que optaram por habitar mais esses espaços e, então, reformá-los para suprir melhor as necessidades.

Para Villas, essa nova situação deu um fôlego no curto prazo para os empreendimentos distantes dos grandes centros urbanos, “já que os terrenos nessas regiões são mais baratos e as pessoas podem comprar um espaço maior, melhor, com mais qualidade de vida sem precisar se deslocar longas distâncias para o trabalho – tanto para quem não pode ficar fora do escritório como também para aquelas pessoas que podem trabalhar remotamente.”

“Portanto, o grande cenário para o futuro é ter mais pessoas morando fora dos grandes centros, diminuindo o adensamento dessas regiões no longo prazo e desenvolvendo outras áreas, inclusive com a valorização dos produtores e serviços locais”, analisa.

O que não pode faltar na “casa da pandemia”
“Acredito que essa situação de isolamento trouxe a consciência do valor de uma casa bonita, funcional e bem estruturada para quem a habita, enfim um espaço que possa proporcionar bem-estar acima de tudo”, diz a arquiteta Patrícia Martinez. Ela enumera algumas características comuns e importantes para se ter em mente na hora de pensar em uma casa para esse novo momento:

– Um home office estruturado em casa, que agora sai do “quartinho do fundo” para uma condição muito confortável, arejada e ergonômica;

– Um espaço para ginástica ou meditação em casa também entra com muita intensidade, já que as pessoas passam a entender a importância da saúde;

– Nessa linha também entram os espaços abertos, principalmente para quem mora na cidade grande, em apartamentos, que passa a pensar em otimizar melhor a varanda;

– Por fim, a presença da natureza dentro de casa também vem com força nesse novo momento, pois as pessoas sentem cada vez mais falta desse contato.

 

Fonte: globo.com

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